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Queda Histórica nas Emissões de CO₂ no Brasil em 2023: Como o País Pode Manter o Progresso Ambiental

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Em uma conquista significativa para o meio ambiente, o Brasil conseguiu reduzir em 12% suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 2023 em comparação ao ano anterior, segundo o Observatório do Clima. Essa redução expressiva levou as emissões do país de 2,6 bilhões para 2,3 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente (CO2e). Esse avanço coloca o Brasil no caminho certo para atingir as metas climáticas acordadas, mas também traz à tona desafios importantes a serem enfrentados para consolidar essas conquistas em longo prazo.

Essa redução é especialmente notável ao considerar que representa a maior queda percentual desde 2009, marcando um avanço histórico. No entanto, a redução das emissões depende, principalmente, da diminuição do desmatamento na Amazônia, o que ressalta a importância de uma abordagem abrangente e sustentável para o futuro.

Os dados trazem um alento, especialmente em um momento em que a urgência do combate às mudanças climáticas se torna cada vez mais evidente. Porém, a necessidade de expandir essas políticas para outros biomas e setores econômicos é um ponto crítico. O Brasil agora enfrenta o desafio de manter esse ritmo de redução, ampliando as ações para diversas regiões e setores.

Contexto Histórico e Análise de Dados

A redução de 12% nas emissões brasileiras em 2023 marca a maior queda percentual registrada desde 2009. Esse recuo significativo representa um ponto de inflexão no histórico de emissões do país, especialmente em um cenário onde o controle ambiental e as metas climáticas vêm se tornando cada vez mais críticos no combate à crise climática global. Em 2009, o Brasil havia atingido uma das menores taxas de emissão desde o início da série histórica, que começou em 1990. A atual redução reforça a capacidade do país de implementar políticas ambientais eficazes quando há foco e compromisso.

O fator principal por trás dessa queda foi a significativa redução no desmatamento da Amazônia. A preservação da floresta tropical, que ocupa grande parte do território brasileiro, é fundamental para o controle das emissões de gases de efeito estufa, pois a região abriga ecossistemas que capturam e armazenam vastas quantidades de carbono. Em 2023, as emissões por desmatamento na Amazônia caíram 37%, passando de 1,074 bilhão de toneladas de CO₂ equivalente para 687 milhões de toneladas. Essa redução reflete o impacto positivo de esforços voltados ao controle e à fiscalização do desmatamento ilegal na região.

Embora a queda nas emissões seja um avanço considerável, ela também ressalta a dependência do Brasil em relação às florestas amazônicas para atingir suas metas de redução de emissões. A preservação da Amazônia continua sendo o principal pilar de uma política climática bem-sucedida, mas evidencia a necessidade de expandir essas iniciativas para incluir outros biomas e setores que também impactam significativamente o meio ambiente.

Desafios em Outros Biomas

Apesar dos avanços significativos na redução das emissões na Amazônia, outros biomas brasileiros estão enfrentando um aumento preocupante nas emissões de gases de efeito estufa. O Cerrado, por exemplo, registrou um aumento de 23% nas emissões em 2023, enquanto o Pantanal teve um crescimento alarmante de 86%. A Caatinga e a Mata Atlântica também registraram aumentos, de 11% e 4%, respectivamente. Esses dados ressaltam que, embora a redução no desmatamento da Amazônia seja essencial, há uma necessidade urgente de ações específicas e políticas ambientais voltadas aos demais biomas do país.

Essa situação ressalta a atual dependência do Brasil em relação à Amazônia para cumprir suas metas climáticas. Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), essa dependência expõe uma fragilidade nas estratégias climáticas do país, que têm se concentrado fortemente em uma região enquanto outras enfrentam aumentos de emissões. Sem um esforço mais abrangente, que inclua medidas efetivas para frear o desmatamento e a degradação em outros biomas, a meta de descarbonização e de cumprimento da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) pode ser seriamente comprometida.

O desafio agora é implementar políticas ambientais consistentes que contemplem todos os biomas e setores da economia, evitando um “vazamento” de desmatamento para regiões menos fiscalizadas. Apenas com uma abordagem integrada será possível manter o país no rumo certo para atingir suas metas climáticas e assegurar a conservação dos diversos ecossistemas brasileiros.

Uso da Terra e Agropecuária

O uso da terra permanece como um dos principais responsáveis pelas emissões de gases de efeito estufa no Brasil, representando quase metade das emissões totais (46%). A mudança de uso da terra, que inclui atividades como o desmatamento para expansão agrícola e a conversão de áreas naturais em pastagens, contribui diretamente para essa alta taxa de emissões. A substituição de vegetação nativa por terras de uso econômico reduz a capacidade do solo e das florestas de capturar e armazenar carbono, tornando o setor uma das maiores fontes de CO₂ do país.

A agropecuária, em particular, continua a ser um grande impulsionador do aumento das emissões. Em 2023, o setor alcançou o quarto recorde consecutivo de emissões, com um aumento de 2,2% em comparação ao ano anterior. Uma das principais fontes desse crescimento é a fermentação entérica do gado bovino — o “arroto” dos bois — que emitiu 405 milhões de toneladas de CO₂ equivalente, mais do que as emissões totais de alguns países, como a Itália. Esse processo natural, resultante da digestão do gado, libera metano (CH₄), um gás de efeito estufa com um impacto climático muito maior que o dióxido de carbono.

Além da fermentação entérica, o aumento do rebanho bovino e o uso crescente de insumos agrícolas, como calcário e fertilizantes nitrogenados, também contribuem para a elevação das emissões no setor. Com a expansão contínua da produção agropecuária, o Brasil enfrenta o desafio de alinhar a necessidade de crescimento econômico com práticas de mitigação de emissões, como a adoção de tecnologias para reduzir a emissão de metano e o desenvolvimento de sistemas agrícolas que promovam o sequestro de carbono no solo.

Setores de Resíduos e Energia

Os setores de resíduos e energia também apresentaram um leve crescimento nas emissões de gases de efeito estufa em 2023, com aumentos de 1% e 1,1%, respectivamente. Embora os percentuais sejam menores em relação a outros setores, eles ainda refletem a importância de um controle rigoroso nas atividades que envolvem tanto o gerenciamento de resíduos quanto o consumo energético, especialmente em um cenário onde o Brasil busca cumprir suas metas de redução de emissões.

No setor de energia, o consumo de combustíveis fósseis continua a ser um desafio significativo. O aumento no uso de diesel, gasolina e querosene de aviação contribuiu para uma elevação de 3,2% nas emissões do setor de transportes, que alcançaram um novo recorde de 224 milhões de toneladas de CO₂ equivalente. Esse aumento no transporte contrasta com a queda de 8% nas emissões de geração de eletricidade por termelétricas fósseis, já que em 2023 o país não enfrentou uma crise hídrica e, por isso, houve menor necessidade de recorrer às termelétricas.

Esses dados evidenciam a importância de políticas que incentivem a transição para fontes de energia mais limpas e o desenvolvimento de tecnologias de transporte menos dependentes de combustíveis fósseis. A adoção de medidas como o aumento do uso de biocombustíveis, energias renováveis e investimentos em infraestrutura para mobilidade sustentável serão essenciais para reduzir as emissões nos setores de resíduos e energia e contribuir para uma economia de baixo carbono no Brasil.

Impacto das Queimadas

Em 2023, o Brasil registrou uma redução significativa nas emissões causadas por queimadas. As emissões de gases de efeito estufa resultantes de queimadas de pasto e vegetação nativa caíram 38% e 7%, respectivamente. Essa diminuição é um reflexo positivo dos esforços para controlar incêndios e reduzir atividades de queima, especialmente em áreas de pastagem.

No entanto, as queimadas continuam sendo uma preocupação crescente no cenário ambiental brasileiro. Com o avanço das mudanças climáticas, o risco de incêndios em áreas de vegetação natural e até mesmo em florestas úmidas, como a Amazônia, aumenta consideravelmente. Esses incêndios não só liberam grandes quantidades de carbono na atmosfera, mas também comprometem a capacidade das florestas de atuar como sumidouros de carbono, reduzindo o potencial de absorção de CO₂.

Assim, mesmo com a redução nas emissões por queimadas em 2023, a gestão de incêndios e a prevenção de queimadas devem permanecer como prioridades para que o Brasil consiga cumprir suas metas de mitigação de emissões de gases de efeito estufa e proteger seus ecossistemas naturais. Políticas de controle e monitoramento de queimadas, além de programas de conscientização e treinamento para comunidades locais, serão essenciais para enfrentar o risco crescente de incêndios e suas consequências para o clima e a biodiversidade.

Com informações: Luciano Nascimento – Repórter da Agência Brasil / Foto: © Jader Souza/AL Roraim

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